A apatia é um estado emocional caracterizado pela dificuldade de se sentir emoção, sentimento, paixão. A palavra “apatia” tem o prefixo “a” de negação e a palavra grega “pathos”.
O prefixo “a” tem o mesmo significado que tem na palavra “amorfo”, que significa “sem forma”. Já a palavra “pathos”, do grego, significa “espanto perante o novo”, paixão, emoção.
A apatia, então, significa “sem emoção”. Sem vibração, sem ânimo, sem desejo e sem sentimento. Mas não é só por falta de estímulos externos que provoquem emoções e desejos.
É semelhante ao que acontece com o desejo de comer
Se a comida não tiver sabor, não dá desejo de comer. Isso a gente sabe. Mas, e se tiver, dá sempre vontade de comer? A gente sabe que não.
Se a pessoa tiver queimado a língua com uma comida ou bebida muito quente, ela sente menos sabor. Se estiver enjoada, sente menos desejo de comer.
Então, apesar do sabor gostoso de um alimento, a pessoa pode não sentir o seu sabor nem desejar comer. Isso também ocorre com as papilas condicionadas à excesso de tempero ou de açúcar.
E acontece algo semelhante com a vida
A vida é como os alimentos gostosos, por isso, dá desejo de viver. Dá ânimo. O cheiro que as árvores de flamboyant exalam quando florescem dá desejo de viver. O início da primavera também.
Quando alguém se apaixona. Quando o sol nasce ou se põe, quando se vai à praia ou ao campo, quando se consegue avançar para realizar um propósito. E, também, sem nenhum motivo aparente.
Mas, como disse Chico Buarque, em Roda viva: “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”. E quando a dor emocional é grande, a necessidade de sobreviver atua para diminuí-la.
Pode tirar nosso ânimo e gerar apatia ou melancolia
A melancolia tem uma apatia com uma tristeza de fundo. Ambas mostram a necessidade de se resgatar o prazer de viver. E as duas têm origens semelhantes.
Se o trabalho da pessoa ocupar um grande espaço no que dá sabor à sua vida, ao se aposentar, seu ânimo baixa e ela pode sentir apatia ou melancolia. A origem é uma sensação de vazio.
Quando a pessoa tem uma perda afetiva e sente uma emoção de dor difícil de suportar, o seu cérebro toma providências para abaixar esse sentimento, porque ele ameaça sua sobrevivência.
E, com isso, abaixa a sensibilidade para as emoções
Diminui tanto a capacidade de se sentir a dor emocional, quanto a satisfação de uma emoção agradável. É como se queimasse “a língua que saboreia as emoções”.
E, da mesma forma que queimar a língua diminui o prazer de comer, não sentir as emoções agradáveis diminui o prazer de viver. E, se isso for intenso e demorado, pode diminuir o desejo de viver.
Vamos ver o que nosso cérebro faz para que a apatia não gere a perda do desejo de viver. Para isso, precisamos ver o que Eric Berne, criador da Análise Transacional, chamou de “Carícia”.
Carícia é a unidade de reconhecimento humano
Há carícias positivas e carícias negativas. Um beijo, um abraço, um elogio, um agradecimento são carícias positivas. Ofensa moral, tapa e desprezo são carícias negativas.
Expressar lástima pelo outro é dar uma carícia negativa. Na falta de carícias positivas, a pessoa pode até buscar as negativas, pois, sem o reconhecimento humano, ela pode perder o desejo de viver.
Eu acabei de me lembrar de uma cena que vivi, há uns dois anos e que me emocionou muito. E isso é uma boa ilustração do que é a perda do desejo de viver, por falta de reconhecimento, de carícia.
Eu fui a uma loja, em uma pequena cidade perto daqui
Precisei estacionar o carro e andar um quarteirão. Antes de chegar lá, de repente, vi um gato deitado na calçada. Ele estava um pouco sujo e deitado em concha.
Ao me ver, girou a cabeça em minha direção. Eu parei para ver se ele necessitava de alguma coisa. E ele deu alguns miados que me trouxeram lágrimas aos olhos e meu abdômen pulsou involuntariamente.
Eu soube naquele momento que ele estava se despedindo da vida. Ele não queria mais viver. E queria que eu fosse testemunha de sua existência.
E como eu soube que era isso?
Por estranho que pareça, eu soube porque não tive dúvidas e porque ele transmitiu de seu corpo para o meu. Eu soube porque minha reação emocional e corporal se originou no som de seu miado.
Eu também soube como foi a vida dele e o que o cansou da vida. Soube das pessoas que se afastavam dele, da falta de reconhecimento, de se sentir existindo para uma pessoa ou outro gato.
Foi muito triste. Mas eu percebi que ele queria que alguém testemunhasse que ele existiu. E eu testemunhei e me comovi. Ele não queria outra coisa de mim. Queria essa carícia.
As carícias são essenciais para evitar a apatia
As carícias do som do vento nas folhas dos coqueiros, do barulho das ondas do mar e da beleza do pôr do sol. E as que vêm das interações com outras pessoas.
Dessas interações, surgem carícias positivas e também as negativas. Para quem está com o “tanque vazio” de carícias, mesmo as negativas servem para se sobreviver.
Porque, quando se entra em um estado de apatia severa, até carícias negativas podem salvar vidas. Eu escutei um relato há vários anos que me ilustrou isso muito bem.
Foi o que aconteceu a um homem que vivia na rua
Ele dormia na parte de trás de um hospital. E dormia em frente à porta de saída da área de serviço.
Mas, todos os dias pela manhã, um funcionário abria essa porta para levar o lixo à rua. Então, ele cutucava com o pé o homem que estava dormindo, para poder passar.
Um dia, esse funcionário saiu de férias. E, quando voltou, o homem já não apareceu mais dormindo ali, na saída de trás. Ele havia morrido. A única carícia que recebia era o cutucão do funcionário.
O que salvava sua vida eram os cutucões que recebia
Quando o “tanque de carícias” está vazio, mesmo as carícias negativas dão algum sentido à vida. Mas, sem dúvida, são as positivas o que nos leva para cima.
As carícias positivas fazem a prevenção da apatia e podem até ajudar alguém que já está convivendo com ela. Este vídeo ilustra isso, de um modo divertido e comovente.
E por que os presidiários temem tanto a punição com o confinamento solitário? Há relatos mostrando que podem gerar depressão e tendência suicida. A causa é a falta de carícias.
Então, o que ajuda a prevenir ou até a sair da apatia?
Se o estado de apatia for severo e persistente, pode ser necessário consultar um psiquiatra.
Pois ele vai verificar se existe a necessidade de algum medicamento, para evitar riscos de problemas maiores.
Não sendo esse o caso, existem recursos para a prevenção, que podem também ajudar a sair do estado de apatia e de melancolia. Mas ainda falta uma informação.
Quando alguém se aproxima do estado de apatia …
… ou entra nesse estado, o próprio cérebro pode atuar para a pessoa sair. Podem ser sonhos, Diálogos Internos ou devaneios que são criados, para suprir a falta de carícias.
Pode ser também o sentimento de nostalgia em que a pessoa vai para um tempo mítico onde lá, lá sim, nos anos 90, ela estava vivendo a vida, o amor, a aventura…
Tudo isso são paliativos, mas pode salvar vidas. O próprio cérebro e a mente criam as carícias que as pessoas necessitam, inclusive falar só. Tudo isso pode prevenir a apatia ou a melancolia.
Portanto, isso gera opções de prevenção da apatia
Nós podemos ajudar nossa mente e aquecer o nosso emocional, para prevenir a apatia com músicas. As músicas que vão produzir os Diálogos Internos que dão as carícias necessitadas.
Para exemplificar, se a carícia de que você precisa for relacionada com a tranquilidade, escolha uma música que assim te deixa.
Se for uma carícia para você conseguir realizar um sonho, um propósito ou o que te dá sabor de viver, escolha músicas que te estimulem o sentimento de vitória.
Há músicas cuja melodia elevam o nosso emocional
Então, vou te recomendar algumas, em função da integração da emocionalidade de quem canta, com a letra e com a melodia. O que me fez perceber o poder dessa integração?
Duas coisas. A primeira foi por aproximar mais meu corpo do que é um diapasão que responde vibrando aos estímulos da música, da mesma forma que respondeu à dor emocional daquele gato.
E a segunda foi algo que percebi e pus em prática em meus cursos não convencionais de comunicação em público. Eu descobri isso, porque filmo os alunos, durante os cursos.
Nas filmagens, vi que os alunos aprendiam algo…
… sem que eu tivesse ensinado. Isso em 2001, depois de 15 anos de vir ministrando esses cursos. Eu percebi que a comunicação de muitos alunos me emocionava e até me comovia.
Em vez de ficar frustrado, porque não foi o meu EU que estava fazendo aquilo, assisti às filmagens querendo saber o que estava tornando os alunos carismáticos.
E foi uma descoberta incrível! Eu VI que, como acabava o medo de falar em público, eles sentiam outra emoção que não a do medo, perante o público. Eles resgatavam o poder de influência das crianças.
E passavam a contagiar a emoção que sentiam
A emoção que não era o medo. Era a emoção que o que falavam gerava em si mesmo! E, com isso, levavam a plateia a reagir como um diapasão.
Se você quiser que seu público sinta uma emoção, você precisa ser o primeiro a sentir! Seu Conteúdo gera sua Emoção que, por sua vez, gera sua Expressão.
Contrariando a Oratória convencional, o gestual, a entonação da voz, a expressão do rosto e do corpo precisam nascer na emoção do comunicador. E não no que ele quer expressar.
Voltando ao assunto da música que previne a apatia
Se o Poder de Influência Emocional do comunicador está em uma “molécula” contendo os “átomos” do Conteúdo, da Emoção e da Expressão, qual é a “molécula” da música que tira da apatia?
É a música em que a Emoção da voz de quem canta está acasalada com a Melodia e a Letra da música. No entanto, da mesma forma que há comunicadores que focam a beleza de seu gestual, …
… há cantores que focam apenas a beleza de sua voz. Mas o Poder de Influência Emocional está na Emoção que sua bela voz expressa. É a Emoção o que toca o Coração!
O poder de contagiar emoções de quem canta
O poder de contagiar emoções de amor e de vitória, por exemplo, depende de três fatores. Da melodia, da letra e da emoção que quem canta sente e expressa, ao cantar.
Ou seja, a melodia e a letra precisam estar integradas, uma melodia triste não combina com uma letra alegre. E a emoção de quem canta precisa nascer da melodia e da letra.
Se o comunicador quer transmitir o sentimento de vitória para o seu público, ele é o primeiro que precisa ter tal sentimento, quando fala de vitória.
Por isso, para “en-cantar”, quem canta precisa sentir emoção
A beleza da voz de quem canta é importante. Já a beleza da voz e o sentimento de quem canta são essenciais para transmitir emoção para quem escuta.
E por que eu investi essas últimas palavras para dizer isso? Porque quem tem apatia precisa receber as vibrações da música e vibrar conforme ela, tal qual um diapasão.
Então, precisa – e muito – escutar as músicas que emitem as “carícias emocionais” que estimulem a elevação de seu emocional, cantada por uma voz de quem sente emoção.
Mas o que interessa aqui não é “só” o conhecimento
Interessa a prática, o que você pode fazer na sua vida para prevenir a apatia e a melancolia. Ou até sair desses dois estados emocionais. Então, aqui vai uma “receita”.
Se algo te abateu gerando algum sentimento relacionado com não conseguir o que é importante para você, escute a música “Força Estranha” cantada por Caetano Veloso, por exemplo.
Pois ele criou essa música por ter tido os sentimentos que ela transmite, o de uma Força Estranha que nós temos. E ele expressa esse sentimento em sua voz, ao cantá-la.
Escute “My Way”, que é um verdadeiro hino à vitória
Há cantores e cantoras que cantam com uma voz belíssima. Mas na “receita” que vou passar para você, é para escutar de quem tem voz belíssima e canta com o sentimento da música.
Tem uma cantora que tem uma voz belíssima, mas canta com o sentimento de tristeza na voz, que não é o da música. Então, recomendo escutar de uma cantora e de um cantor.
Ela ainda não é famosa, mas te recomendo. “My Way” cantado por Vanny Vabiola. Ela encanta, eleva o nosso emocional para o lado oposto da apatia, onde se encontra o divino, com sua voz e seu sentimento.
Tome o “suplemento” Vanny Vabiola 3x/semana
E associe ao “suplemento” Frank Sinatra, cantando My Way, em dias intercalados. E pause um dia, para sentir falta dos dois. Nesse dia, escute “Imagine”, do John Lennon.
Escute e dance “My Sweet Lord”, de George Harisson. Essa música dá vontade de sair do chão, de ir para o alto, que é o oposto da depressão e da apatia. Se puder, dance e saia do chão.
E para a apatia gerada por dores de cotovelo, “The Power of Love” cantado por Vanny Vabiola e esta interpretação de “Chuva de Prata”, pelo conjunto Roupa Nova. Chuva de Prata fala de amor e não de perda.
Observe que há muitas músicas românticas de dor de perda
Mas o que você quer não é trocar uma apatia por uma melancolia. Então, sinta se a melodia eleva ou abaixa seus sentimentos, se te leva para cima ou para baixo. Se te entristece ou te dá perspectiva.
Você precisa facilitar que seu emocional acelere, mas não com qualquer coisa, não com batidas de britadeira no asfalto. Escolha a música romântica que não te leve à dor de perda.
Escolha a música cuja melodia, letra e voz do cantor têm sentimento e que te leve ao sentimento de que há boas perspectivas para sua vida. E vá para frente e para o alto.