Estamos numa era em que a compreensão parece estar se esvaindo, quase como se fosse um recurso raro.
A busca desenfreada pela sobrevivência nos levou a um ponto em que raramente erguemos os olhos de nossos próprios dilemas para notar o que acontece ao nosso redor.
Estamos tão imersos nas nossas próprias histórias que, nos dias de hoje, acabamos perdendo a capacidade de entender o ponto de vista dos outros.
No meio do corre-corre diário, a compreensão…
… segue em segundo plano. A pressa, a competição, a falta de paciência – todos esses fatores são como pedras que vão corroendo os laços humanos.
Apressados, não temos tempo para ouvir o outro, para entender sua perspectiva. Competitivos, queremos sempre vencer, mesmo que isso envolva passar por cima de alguém.
Intolerantes, não aceitamos as diferenças, e isso nos torna cada vez mais distantes. O resultado é um mundo cada vez mais dividido, onde as pessoas se isolam em suas próprias bolhas, incapazes de se comunicar e compreender.
Sem compreensão, agimos como barcos à deriva…
… no mar revolto. Pense nas emoções como as águas de um turbulento rio, sempre em fluxo, alterando sua forma e velocidade a todo instante, e, em certos momentos, se chocando umas contra as outras.
A analogia nos ajuda a enxergar a natureza dinâmica e, por vezes caótica, das emoções que vivenciamos ao longo da vida.
Assim como um rio que serpenteia entre as montanhas, a compreensão é um trajeto que se abre entre os meandros da experiência humana.
É como a água fluindo sempre em busca de…
… um caminho. Ela não se choca com as adversidades, sempre encontrando um jeito de contorná-las. Sem a compreensão, é claro, isso não ocorre.
Porque, sem ela, frente aos desafios, agimos como se estivéssemos atravessando águas turvas, sem saber o que pode surgir pela frente ou o que ficou para trás.
É como estar num barco. Às vezes, o rio é calmo, e a viagem é prazerosa. Noutras, o rio agita, e fica arriscado. Assim, colocar-se no lugar do outro é como um leme que nos guia por essas águas agitadas.
A empatia tem disso…
De nos conectar com as emoções dos outros, mas também de nos ajudar a compreender e aceitar as complexidades que compõem cada história individual.
É como se fosse a cola que mantém unidos todos os detalhes intrincados de um trabalho bem-feito. Sem nenhum nó, só a verdade, só a compreensão.
Para dar entendimento a essa ideia, permita-me contar uma história, uma história que flui como as águas de um grande rio…
A história da família Fletcher
Nos arredores de Richmond, em Londres, habitava uma família numa modesta casa de tijolos vermelhos, que se tornara um autêntico lar — eram os Fletchers.
A história de vida dos Fletchers era marcada pela ternura com que Edward, o patriarca, guiava o lar, enquanto Sandra, a amorosa mãe, zelava pelos filhos com carinho sem igual.
Richard e Mark, os dois irmãos, cresciam fortes e saudáveis sob o caloroso afeto que envolvia a casa. Mas, um dia, um véu de escuridão cobriu o lar, e as brigas entre os dois se tornaram cada vez mais frequentes.
Uma maldição, um legado sombrio do passado…
… assombrava a família Fletcher. A origem desse fardo era uma bruxa maligna, em cuja história de vida fora envenenada pela injustiça e pela dor do sofrimento.
Há muitas luas atrás, o pai de Edward banira a mãe da velha bruxa de sua aldeia, imputando-lhe a acusação de ser portadora de magia negra.
O tempo transcorreu, mas a bruxa guardava em seu coração uma ânsia de vingança, uma chama que ressurgiu ao tomar ciência da existência dos filhos de Edward.
Decidida, a bruxa teceu uma maldição…
… sobre a linhagem. A magia envolvia as emoções e as interações entre os jovens, manifestando-se de forma mais intensa quando estavam juntos. Assim, o que restava a fazer?
Como a família poderia abandonar esses capítulos passados e se entregar a novos desdobramentos? A antiga casa transformou-se em cenário de conflitos, discussões e mistérios enigmáticos.
Em um certo dia, Edward optou por enfrentar a sombra que pairava sobre aquele refúgio, em busca de compreensão. Ele sabia que, para entender a sombra, era necessário se colocar no lugar do outro.
Edward convocara todos na sala, cujas paredes…
… guardavam décadas de histórias. “Algo nos aflige, algo que vai além da nossa compreensão. Devemos desvendar a origem desse sofrimento para alcançarmos a paz“, expressou Edward, seus olhos percorrendo cada rosto tenso ao seu redor.
Sandra, com um tom enfático, acrescentou: “Tenho sentido isso também, Edward. As discussões entre nós, com as crianças… não parece ser algo natural”.
Enquanto isso, Richard, com a testa franzida, observou: “Parece que uma nuvem sombria paira constantemente sobre a casa“.
Para os Fletchers tudo era novidade, algo que…
… jamais poderiam ter previsto Naquele instante, uma figura sombria emergiu na sala, revelando-se como a bruxa que lançara a maldição. Edward, surpreso, indagou: “Quem é você? Como entrou aqui?“.
Morgana, a anciã feiticeira, tinha jurado vingança, e a maldição que ela lançara determinava que os dois irmãos jamais se entenderiam, tornando o lar da família um lugar marcado pela discórdia e pelo sofrimento.
Quando era jovem, o pai de Edward havia expulsado a mãe de Morgana da aldeia. Desde então, a paz tornou-se um estranho visitante na vida da família.
Fixando o olhar em Edward, a bruxa era enfática…
“Vocês carregam o fardo dos pecados de seus antepassados, mas existe uma maneira de romper com essa maldição“, proclamou a bruxa, apontando para um objeto antigo no centro da sala.
Encarando Edward, a bruxa dizia: “Por causa das ações do seu pai, Edward. Ele expulsou minha mãe da vila, acusando-a de magia negra. Uma injustiça que nunca esqueci. Se querem paz, terão que enfrentar o passado”.
“Então, estamos sofrendo por algo que aconteceu antes mesmo de nascermos? ”, disse Richard com semblante de surpresa.
Às vezes, as aparências não refletem a verdade…
… das coisas. Diante do cristal, não apenas presenciaram a dor que se infligiu mutuamente, mas também desvendaram a origem de todo o mal.
“Lamento por tudo o que minha família causou a você“, disse Sandra, com lágrimas nos olhos, enquanto abraçava a velha bruxa, reconhecendo a dor que ela carregava.
Richard e Mark trocaram olhares, compreendendo a dor que infligiram um ao outro. Compreenderam que, mesmo sob a maldição, permanecia a prerrogativa da escolha de como reagir.
A compreensão surgiu como o desvelar…
… das cortinas sobre uma verdade oculta. Ao se perdoarem e compreenderem uns aos outros, a maldição começou a se dissipar. A residência, outrora envolta em sombras, viu-se banhada por uma luz suave e reconfortante.
A feiticeira, com um sorriso sutil, dissipou-se, libertando a família do pesado fardo daquele passado terrível. Haviam, então, descoberto a importância de se colocar no lugar do outro.
A partir daquele dia, a casa nos arredores de Richmond tornou-se um refúgio acolhedor, onde o amor e a compreensão floresceram de forma majestosa.
Aja com a fluidez de um rio para entender o ponto…
… de vista do outro. A história de vida da bruxa é como um rio que corre sem parar, levando consigo as águas de suas experiências, traumas, alegrias e aprendizados.
Assim como o rio, a bruxa reflete suas experiências. Nós, humanos, seguimos a mesma trilha. Com o tempo, as águas vão esculpindo esse trajeto, dando-lhe forma e direção.
Ao longo da vida, vamos acumulando vivências e crenças. Precisamos nos dispor a entende-las, para não se solidificarem como uma pedra bruta à espera de ser lapidada pela compreensão de outra pessoa.