O que é ser feliz para você? Bem, em maio de 2010, Rachelle Friedman estava animada se preparando para um dos dias mais importantes de sua vida.
No clima de noivado, cercada por amigos, ela aproveitava sua festa de despedida de solteira à beira da piscina.
No entanto, a alegria do momento se transformou em tragédia quando Rachelle foi empurrada por um amigo, resultando em um acidente que deixaria marcas permanentes em sua vida.
O que viria a seguir?
Depois de ser empurrada, Rachelle emergiu até a superfície, porém algo parecia errado.
Sua cabeça bateu no fundo, resultando em duas vértebras quebradas, incluindo a fratura da vértebra C6, que a deixou paralisada da cintura para baixo.
Um ano depois, Rachelle se casou e adotou o nome Rachelle Chapman. Em 2013, ela decidiu compartilhar suas experiências e reflexões na comunidade Reddit.
Em meio às adversidades, ela se revelou muito positiva
Quando perguntada se as coisas iam piorar, ela respondeu: “Bem, as coisas mudaram, mas não diria que foi para pior“.
Quanto ao relacionamento, ela disse: “Acho que estamos felizes, especialmente considerando que minha lesão poderia ter sido mais grave“.
Pode parecer um dilema, mas a questão é: como ter uma vida feliz quando parece que tudo está indo por água abaixo?
Afinal, o que de fato nos faz feliz?
Como observado, a história de Rachelle nos ensina muito sobre como nossos cérebros lidam com situações traumáticas e o que realmente nos traz felicidade.
Daniel Todd, psicólogo de Harvard e autor do renomado livro “O que nos faz felizes”, investiga esse tema, e demonstra como subestimamos o impacto de eventos traumáticos na busca pela felicidade.
Curiosamente, estudos mostram que situações desafiadoras e inevitáveis muitas vezes desencadeiam respostas no nosso cérebro que promovem sentimentos positivos e bem-estar.
Pode ser um terremoto, um acidente…
Apesar de muitos rotularem esses acontecimentos como devastadores, estudos indicam que, tempos após o trauma, os níveis de felicidade costumam ser praticamente os mesmos que no dia anterior ao evento.
Agora surge a pergunta: o que explica esse fenômeno? Grandes eventos têm a tendência de acionar o que o psicólogo Todd chama de “sistema imunológico psicológico”.
Em resumo, é o que permite alguém desenvolver a capacidade de encarar situações difíceis de forma mais positiva e feliz, principalmente quando não é possível evitá-las.
“As tais previsões erradas”
É claro, isso contraria a expectativa comum associada a eventos dessa natureza.
Conforme explicado por Todd, “as pessoas muitas vezes não percebem que suas defesas são mais propensas a serem ativadas por sofrimentos intensos do que por aqueles mais leves.”
“Dessa forma, elas fazem previsões equivocadas sobre suas próprias reações emocionais diante de infortúnios“. Esse fenômeno funciona de forma semelhante aos eventos extremamente positivos
Pegue, por exemplo, a ideia de ganhar na loteria
Muita gente pensa que acertar na loteria seria a chave para a felicidade no longo prazo, mas estudos apontam justamente o contrário.
Um estudo de 1978 (em inglês), revelou que tanto paraplégicos quanto os felizardos da loteria mantém níveis semelhantes de felicidade um ano após os eventos.
Ou seja, mesmo diante de mudanças extremas, como o impacto financeiro ou a perda de um membro, ambas as situações resultaram em níveis de felicidade praticamente iguais, a longo prazo.
Perspectivas surpreendentes
É bom lembrar que este estudo específico ainda não foi reproduzido nos últimos anos, mas, de modo geral, tem recebido apoio de forma constante.
Existe uma inclinação natural para exagerarmos o impacto que eventos traumáticos têm em nossas vidas.
Surpreendentemente, tanto os acontecimentos extremamente positivos quanto os negativos não afetam nossa felicidade a longo prazo tanto quanto costumamos imaginar.
Os cientistas chamam isso de “viés de impacto”
Em outras palavras, costumamos exagerar quanto à duração ou intensidade da felicidade que esses grandes eventos gerarão.
Esse viés é só um exemplo de “previsão afetiva”, que tem a ver com a tendência das pessoas em exagerar a intensidade/duração de suas reações emocionais a eventos futuros.
Vale ressaltar algo importante aqui: existem duas lições principais sobre o viés de impacto quando se trata da busca por uma vida feliz.
E quais seriam?
Para começar, foi descoberto que focamos mais nas mudanças e acabamos negligenciando as coisas que permanecem iguais.
Quando pensamos em ganhar na loteria, por exemplo, costumamos focar na fortuna que virá, mas esquecemos que os outros 99% da vida continuarão mais ou menos os mesmos.
Se não dormirmos bem, continuaremos de mau humor. Ainda enfrentaremos desafios no trânsito. Ainda experimentaremos uma sensação de paz ao nos sentarmos na varanda para apreciar o pôr do sol…
Ou seja, vemos as mudanças, mas ignoramos…
… as constantes da vida. Além disso, é preciso entender que cada desafio representa um obstáculo para algo específico, não para a sua essência como pessoa.
Como disse o poeta inglês Thomas Hardy: “A felicidade não está relacionada ao que nos falta, mas ao uso sábio do que já possuímos“.
Muitas vezes, tendemos a exagerar o impacto negativo dos acontecimentos em nossas vidas, da mesma forma que superestimamos o quanto os eventos positivos podem beneficiá-las.
É por isso, que precisamos mudar o foco
Demonstrar gratidão, aproveitar jantares nos fins de semana, mergulhar em boas leituras e preparar refeições, experiências que valem a pena desfrutar, mesmo com pouca mobilidade.
Embora questões assim ainda possam trazer desafios específicos, elas representam apenas uma pequena parte das experiências que estão ao seu alcance.
É verdade que enfrentar desafios em algumas tarefas pode surgir de eventos negativos, mas temos o potencial para ir muito além disso.
Então, como ser feliz nas adversidades?
É como diz o ditado, “Depois da tempestade, vem a bonança.”. Na prática, essa ideia nos convida a concentrar nossos esforços no que podemos controlar e descobrir alegria nas pequenas coisas.
Valorizar momentos de paz, expressar gratidão, manter conexões com amigos, se envolver em atividades que nos proporcionem satisfação pessoal, como hobbies e exercícios físicos…
Bem, são todas maneiras de nutrir a felicidade, mesmo quando enfrentamos desafios.